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PDF com o descritivo conceitual
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Site Daniel : https://www.behance.net/danielroche7c8

Site Raísa :
https://cargocollective.com/inocencioraisa
DESCRITIVO conceitual

Bestiário-casa é uma obra que nasceu de uma necessidade de expressão aliando a realidade virtual com o sincero desabafo dos afetos. O print é o meio de expressão que popularmente as pessoas usam para o registro da memória. À partir disso, dessa mimesis trazer como uma forma de obra de arte, compondo assim um espelho do espelho do cotidiano.

A intervenção-performance consiste então como um jogo-brincadeira, num tom propositivo, mas fruitivo de realizar um disparo de mensagens como “ ei, como ce tá? Vem cá participar de uma performance”, fazendo da mensagem um primeiro disparador de afetos. A pergunta “como foi seu dia” desdobra duas perguntas aparentemente antagônicas mas que convergem para o mesmo objetivo, a primeira sendo : qual animal nessa quarentena você seria? Aqui aliando uma pergunta de ordem realismo fantástico para disparar uma curiosidade, pensando aqui também como Lygia Clark trouxe o corpo, os sentidos com o ethos animal (https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1694/lygia-clar
k) e a segunda questão trata de como é a sua casa no meio dessa quarentena. Sendo assim mais complexa e ao mesmo tempo mais objetiva em relação à um trato dos afetos simbólicos em que pode ser disparado tanto uma angústia, tristeza, como também um efeito terapêutico de se desabafar sobre elas, de se liberar sobre elas, inspirados pelas maneiras de se fazer arte-vida que Nise da Silveira congregava.


fig. 1 Bestiário-Casa - 2020. Questão de desejo

Em seguida, com a resposta desenvolvemos o bestiário-casa com os elementos respondidos, aprimorando como um mosaico, criando assim uma subjetividade pandêmica com elementos simples. O fato da obra partir de uma simplicidade é para justamente trazer ao espectador, participante do jogo, um princípio que a arte se renasce nos seus tempos atuais com composições de fácil acesso, sem se deixar perder no vasto mar de informações virtuais.

Por em uma obra um tornar-se estético, que converge por consequência numa sensibilidade com o atual momento da quarentena, de pandemia, mas também de uma criação que nasceu no diálogo, nasceu do cotidiano e reflete o mesmo. O nosso inconsciente acaba aparecendo em outros espelhos formando mosaico, espelhos refletidos em imagens de pensamento como também em simples imagens coloridas e destoantes. Cria-se então mais uma vez uma possibilidade de sujeito emancipado da necropolítica e do que estamos vivendo, numa rede de afetos e sensações.

São elas, muitas as sensações desdobradas, por isso, é importante notar algumas influências assim pensadas. Para o bestiário pensamos numa pesquisa sobre Chico da Silva, mas também o olhar do jaguar de Viveiros de Castro quando ele pretende introduzir o pensamento ameríndio (ref. https://www.academia.edu/31594705/LA_MIRADA_DEL_JAGUAR_por_Eduardo_Viveiros_de_Castro) que afirma tanto a humanidade quanto a animalidade são traços de um mesmo pensamento, no caso, aqui do pensamento ameríndio e por nós defendido como uma inspiração primeira. Como os devires animais podem aparecer no entorno do sujeito na casa, Derrida integra estas animalidades no texto “o Animal que logo sou”, trazendo um pano de fundo filosófico que no olhar entre o “eu” e o “outro” congrega uma fonte infinita de efeitos, assombros e impressões, fonte inesgotável da arte e do questionamento de como assim transmiti-lo.

Além dessas referências textuais-conceituais pensamos em algumas artistas que nos inspiraram pela tomada de consciência do cotidiano como expressão artística de si e do sujeito. São elas Sophie Calle, Grada Kilomba e Aleta Valente.

Sophie Calle é uma das artistas contemporâneas que traça uma linha invisível entre vida e arte, entre imagem e palavra, fazendo de suas obras que duram anos uma durabilidade também intertexto. Ao mesmo tempo que sua voz e seu passo fazem de maneira que suas ações parecem apenas uma brincadeira, sendo de novo o questionamento o que é uma obra de arte o seu leitmotiv. Suas confissões e seu bestiário (no qual ela expõe seus familiares transfigurados em animais - imagem abaixo) - que eu tive a oportunidade de ver em Marseille me inspiraram profundamente.

fig.2 EXHIBITION "MADRE" - Castello di Rivoli Turin (Italia), 2014

https://www.perrotin.com/artists/Sophie_Calle/1#news

Grada Kilomba e Aleta Valente dão o tom político da segunda questão sobre a Casa e como constituir uma memória com elas. Kilomba porque inspirada por Fanon traz à importância do “expérience vécue” (experiência vivida) do sujeito não importa a condição econômica ou a falta de recursos, no caso, tecnológicos. Nisso também nos apoiamos na escolha de plataformas simples acessíveis dando um tom pedagógico à brincadeira. O importante é que nesta intervenção relacional a pessoa possa se desdobrar entre brincadeira e desabafo, compondo uma teia inconsciente dos afetos, dando fôlego para o tempo que está porvir.

http://gradakilomba.com/

Aleta Valente é uma artista carioca que utiliza as plataformas sociais como meio de expressão, é dela também esse empoderamento de dizer que à arte contemporânea pode e deve estar na rua e nas mídias da mesma maneira como nos expressamos cotidianamente. Ela trata de assuntos que inspiram por lidar com uma “casa” e ao mesmo tempo referência fundamental para criação nos formatos que assim pensamos.

Algumas destas artistas nos influenciam, mas, no entanto, prezamos por reafirmar mais uma vez o caráter espontâneo, naïf e sem moldes que nos propomos a fazer. Durante 72 horas provocar uma discussão com prints e imagens que carregue outros sentidos à quarentena, ao isolamento social e à nossa rede de afetos. Performance de relação e de encontro.


Obra em continuum.




https://bestiario-casa.hotglue.me/
Daniel Rocha e Raísa Inocêncio
Fortaleza, Ceará.

2020